Longe de uma casa que não é lar, de um território em que sempre fui estrangeiro, ouço vozes cantarolar o que me irrita. Apenas a amargura da cerveja me faz forte.
Ouço outras vozes que me dizem ser eu um vencedor. Talvez o maior de todos. Venci a guerra de maior perdedor de batalhas.
Conheço na pele o poema do quase. Há sempre uma trave. Não aprendo mais nada em quase meio século de rugas, dores e calvíce. Como fazer pra continuar?
Eu ousei a pronunciar a sentença: se minha mãe não tivesse me feito, eu não estaria aqui?
Nem adianta tentar me levantar. Estou há dias sem dormir, em uma cidade mais que estranha, bebendo a esperança de uma morte, perdido em números que provavelmente vão me tirar mais uma vez, a derradeira chance. Acumulo mais uma derrota.
Sobrevivo à música "daqueles que me detestam", rio das circunstâncias (sou aquele que esconde as fronteiras, ainda que moldado a elas) e bebo para sobreviver, embora não haja vida útil pra mim.
Esculpido fui para dores, espadas e sangue. Não sei pedir ajuda. Sou a proteção que me deixa vulnerável. Qual maior vulnerabilidade que apenas conhecer vínculos com as cachorrinhas que rondam o boteco da cidade frio, cujo único interesse em minhas lágrimas é o quanto de sanduíche ainda dividiria?
Amanhã volto a fingir ser professor. Esta noite sou solidão e fracasso. A verdade.
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