Depois de um olhar antropológico
num dia de balada, percebi que o sono não voltaria. Era outra coisa que eu
precisava fazer. Para além dos milhares de compromissos que posso protelar,
falar a verdade não posso. Antes que a polícia venha me dizer que eu posso se
quiser, só direi que não posso porque NÃO QUERO.
Há dias que as coisas não me
deixam descansar. E só agora percebi que era a voz de dentro expurgando minhas
verdades. E foram. Há dias também vejo a polícia dizer qual a receita da
felicidade integral para toda a população da galáxia (não basta mais a
população terrena), com a velha e boa tática de dizer que a “outra” felicidade
é uma ilusão, é produzida por isso e aquilo “ismo”. E todo aquele blá-blá-blá
de sempre. Vejo que virou moda (na verdade há muito já é assim) usar de algo
que supostamente deveria ser libertário, que supostamente deveria abolir dicotomias
maniqueístas, para novamente produzir um modelo totalizante. Para além do que
penso sobre essas imaturidades, vou voltar ao ponto do texto. Este,
definitivamente, não é um texto contra ninguém. É um texto de reverência, de
gratidão, de amizade, de AMOR.
Também há muitos anos conheci um
jovem amigo que mal sabe o quanto me ensinou da Vida. E este é o momento de
dizer, ou de publicar, esta pequena história. Por “acaso” nos conhecemos em um
solo sagrado (para nós). E lá vivi minha primeira experiência de totalidade. Sempre
quis entender o porquê daquele contato em noites de lua cheia, com vinhos,
ervas, maçãs, estrelas e amigxs exercia tanto poder sobre mim. Hoje sei. Nada
tem a ver com milagres. A linguagem mística é apenas uma forma de algumas
pessoas (eu, por exemplo) darem sentido a algumas de suas experiências.
No entanto, diriam os não céticos
que este encontro “operou milagres”. E não é verdade. Milagre seria algo da
ordem do impossível. E o que este rapaz me ensinou, ou me mostrou, é muito
possível. Ele nunca precisou alterar um tom de sua voz para me “acalmar” (sou
reconhecido por ser um touro bruto ameaçador), muito ao contrário, sua voz
sempre foi melodiosa e amistosa. Nem precisou me acalmar. Meus desesperos
sumiam na presença generosa daquelas pessoas. Foi lá que aprendi a amar o
conhecimento das Ciências Sociais (que em nada eram ocultas). Foi lá, neste encontro,
que conheci a genuinidade de um “eu te amo”, e amor era verbo transitivo
direto. Tinha direção. Sim, este era o mistério: eu era a direção, não se
tratava do tão aclamado amor livre. Porque a liberdade era amar. E na mais doce
contradição opiácea (como diria Marx), esta liberdade é a única lei. Quem
entende? Nós.
A magia era criar vínculos. Era ser
importante. Era valer a pena. Era estar junto, pro que der e vier. Era carinho
sem cobrança, era doação sem sacrifício. Era ser UNO, sendo tantxs. Naquele momento,
ouvir era sempre mais importante que falar. E ninguém ficava sem voz. Não era
regra. Era vínculo. Nunca ouvimos que deveríamos ser companheirxs, éramos. A força
da nossa união não vinha de dogmas nem de teorias moderninhas, vinha da
importância que dávamos aos nossos elos. A máxima “um por todos e todos por um”
nunca foi exigida, simplesmente era seguida. Não havia “faça isso ou não brinca
mais”, ninguém era “o dono da bola”, autoridade e arrogância nunca são necessárias
quando você reconhece em si, logo na diferença com o outro, que celebrar é
melhor que obrigar.
Eu não fui exigido em nada. Em
troca, só recebi: afetos, amizades, abraços, compartilhamentos, e Amor. E é
claro que eu tenho saudades daquele tempo, e me orgulho de ter. Saudades só
temos do que importou. E eu importei. Nós importamos.
Todas as vezes que pedi socorro,
e foram tantas, era um abraço que eu ganhava. E quando eu lembro, eu fico com
uma raiva danada de mim, porque demorei tanto pra perceber que eu nada tinha de
amaldiçoado. Se não tinha a mãe e o pai “de verdade”, eu tive desde aquele
encontro o “Pãe”, e toda a família de irmãs e irmãos conquistadxs. E essa
história não acabou.
Era simplesmente isso que eu
queria dizer, talvez poucxs concordem (o que não me causa a menor preocupação),
mas não saiam por aí autorizando ou desautorizando Amor. Quem não desejá-lo, a
fórmula é bem simples, afasta-se Dele. Amor não corre atrás de ninguém. Ele é
benção, e como tal, só nos é ofertado se for de nosso desejo. Nada exige,
apenas aceitar e vivê-lo. E isso eu aprendi contigo, meu Pãe!
E hoje tive vontade de lembrar ao
mundo que você me ensinou esse “truque de mágica”. Pra ser fiel a mim, a única fidelidade
possível em que EU acredito, prefiro te deixar os versos mais lindos do outro
amigo, que sempre me (en) cantou:
“E o que disserem
Meu pai sempre esteve esperando
por mim
E o que disserem
Minha mãe sempre esteve esperando
por mim
E o que disserem
Meus VERDADEIROS amigos sempre
esperaram por mim
E o que disserem
Agora meu filho espera por mim
Estamos vivendo e o que disserem
Os NOSSOS dias serão para sempre.
*OBS: os versos que eu cito são do meu eterno inspirador Renato Russo
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