sábado, novembro 09, 2013

"Cada um de nós imerso em sua própria arrogância esperando por um pouco de afeição"

Depois de um olhar antropológico num dia de balada, percebi que o sono não voltaria. Era outra coisa que eu precisava fazer. Para além dos milhares de compromissos que posso protelar, falar a verdade não posso. Antes que a polícia venha me dizer que eu posso se quiser, só direi que não posso porque NÃO QUERO.
Há dias que as coisas não me deixam descansar. E só agora percebi que era a voz de dentro expurgando minhas verdades. E foram. Há dias também vejo a polícia dizer qual a receita da felicidade integral para toda a população da galáxia (não basta mais a população terrena), com a velha e boa tática de dizer que a “outra” felicidade é uma ilusão, é produzida por isso e aquilo “ismo”. E todo aquele blá-blá-blá de sempre. Vejo que virou moda (na verdade há muito já é assim) usar de algo que supostamente deveria ser libertário, que supostamente deveria abolir dicotomias maniqueístas, para novamente produzir um modelo totalizante. Para além do que penso sobre essas imaturidades, vou voltar ao ponto do texto. Este, definitivamente, não é um texto contra ninguém. É um texto de reverência, de gratidão, de amizade, de AMOR.
Também há muitos anos conheci um jovem amigo que mal sabe o quanto me ensinou da Vida. E este é o momento de dizer, ou de publicar, esta pequena história. Por “acaso” nos conhecemos em um solo sagrado (para nós). E lá vivi minha primeira experiência de totalidade. Sempre quis entender o porquê daquele contato em noites de lua cheia, com vinhos, ervas, maçãs, estrelas e amigxs exercia tanto poder sobre mim. Hoje sei. Nada tem a ver com milagres. A linguagem mística é apenas uma forma de algumas pessoas (eu, por exemplo) darem sentido a algumas de suas experiências.
No entanto, diriam os não céticos que este encontro “operou milagres”. E não é verdade. Milagre seria algo da ordem do impossível. E o que este rapaz me ensinou, ou me mostrou, é muito possível. Ele nunca precisou alterar um tom de sua voz para me “acalmar” (sou reconhecido por ser um touro bruto ameaçador), muito ao contrário, sua voz sempre foi melodiosa e amistosa. Nem precisou me acalmar. Meus desesperos sumiam na presença generosa daquelas pessoas. Foi lá que aprendi a amar o conhecimento das Ciências Sociais (que em nada eram ocultas). Foi lá, neste encontro, que conheci a genuinidade de um “eu te amo”, e amor era verbo transitivo direto. Tinha direção. Sim, este era o mistério: eu era a direção, não se tratava do tão aclamado amor livre. Porque a liberdade era amar. E na mais doce contradição opiácea (como diria Marx), esta liberdade é a única lei. Quem entende? Nós.
A magia era criar vínculos. Era ser importante. Era valer a pena. Era estar junto, pro que der e vier. Era carinho sem cobrança, era doação sem sacrifício. Era ser UNO, sendo tantxs. Naquele momento, ouvir era sempre mais importante que falar. E ninguém ficava sem voz. Não era regra. Era vínculo. Nunca ouvimos que deveríamos ser companheirxs, éramos. A força da nossa união não vinha de dogmas nem de teorias moderninhas, vinha da importância que dávamos aos nossos elos. A máxima “um por todos e todos por um” nunca foi exigida, simplesmente era seguida. Não havia “faça isso ou não brinca mais”, ninguém era “o dono da bola”, autoridade e arrogância nunca são necessárias quando você reconhece em si, logo na diferença com o outro, que celebrar é melhor que obrigar.
Eu não fui exigido em nada. Em troca, só recebi: afetos, amizades, abraços, compartilhamentos, e Amor. E é claro que eu tenho saudades daquele tempo, e me orgulho de ter. Saudades só temos do que importou. E eu importei. Nós importamos.
Todas as vezes que pedi socorro, e foram tantas, era um abraço que eu ganhava. E quando eu lembro, eu fico com uma raiva danada de mim, porque demorei tanto pra perceber que eu nada tinha de amaldiçoado. Se não tinha a mãe e o pai “de verdade”, eu tive desde aquele encontro o “Pãe”, e toda a família de irmãs e irmãos conquistadxs. E essa história não acabou.
Era simplesmente isso que eu queria dizer, talvez poucxs concordem (o que não me causa a menor preocupação), mas não saiam por aí autorizando ou desautorizando Amor. Quem não desejá-lo, a fórmula é bem simples, afasta-se Dele. Amor não corre atrás de ninguém. Ele é benção, e como tal, só nos é ofertado se for de nosso desejo. Nada exige, apenas aceitar e vivê-lo. E isso eu aprendi contigo, meu Pãe!
E hoje tive vontade de lembrar ao mundo que você me ensinou esse “truque de mágica”. Pra ser fiel a mim, a única fidelidade possível em que EU acredito, prefiro te deixar os versos mais lindos do outro amigo, que sempre me (en) cantou:
“E o que disserem
Meu pai sempre esteve esperando por mim
E o que disserem
Minha mãe sempre esteve esperando por mim
E o que disserem
Meus VERDADEIROS amigos sempre esperaram por mim
E o que disserem
Agora meu filho espera por mim
Estamos vivendo e o que disserem

Os NOSSOS dias serão para sempre.

*OBS: os versos que eu cito são do meu eterno inspirador Renato Russo

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