sábado, fevereiro 25, 2023

A carga



The Last of us está se tornando uma das top 5 do meu ranking de séries favoritas. Não imaginava, por ser uma temática que não curto - zumbis - e ser baseada em um game. Entretanto, acabei sendo atraído, aguardando ansiosamente toda semana um novo episódio e suas histórias. 

Esta cena do último capítulo me trouxe novamente para outro texto escrito em setembro de 2023, publicado somente no meu blog. Ellie e eu, somos semelhantes, e semelhantes se atraem. Somos órfãos. Como tal, sabemos que ser órfãos é mais que não ser filhos. É ser um não-filho. Algo incômodo, indesejável. Uma carga. 

Pra além da brilhante interpretação da jovem atriz, a "carga" desta cena me descarregou. Busquei a vida toda afetos para suprir os desafetos vividos na infância e adolescência de um indesejado não-filho. Tantas e tantas vezes fui comunicado que a vida de quem me "cuidava" era insuportável pelo fardo de ter que me "criar", que em algum momento deixei de perceber o quão violento é culpar alguém pela própria orfandade. Você cresce mais forte pois se acostuma a não poder contar com ninguém. Ser sozinho é tua fortaleza, ainda que também a tua maior debilidade. Nesta contradição, você aprende a não poder amar. Amor, este privilégio dos que podem ser amados (cargas não podem). Pra você sobra ser a sobra. Solidão é o teu caminho descaminhado. 

Depois de adulto, você tem uma marca. É o estigma do órfão. Chega a ser tragicamente cômico as perguntas recorrentes para a resposta de que se é um sem-família. "Mas nem mãe, nem pai? E irmãos e irmãs? Tios e tias?" Há uma tentativa de encontrar os antepassados, apenas para garantir que ainda há um familiar. E quando não há, mas há a carga - negativa - que deixaram? 

Pra Ellie eu diria: "Somos órfãos, o melhor a fazer é aceitar o mais rápido possível". Não se adia o inadiável. Talvez um dia a gente encontre outros laços que nos abracem. Talvez um dia a gente aprenda a ser pai ou mãe, sem ter sido filho ou filha. E talvez um dia a gente só encontre paz. 

Por enquanto, Rocky Balboa e Apolo Creed me doam seu tempo-amor humanizando-me como só os gatos são capazes. A carga fica mais leve.




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